A codependência é um problema!

Apesar de sua emergência e de tantas pessoas que se recuperam desse problema, a palavra codependência ainda é um jargão. Não existe uma definição padronizada. Ainda não se chegou a um acordo sobre se a codependência é uma doença, um estado ou uma reação normal a pessoas anormais.

O que a maioria das pessoas concordam é o seguinte: seja lá o que for, a codependência é um problema, e é muito melhor recuperar-se dela do que continuar com o problema. Mas se a codependência é tão comum, por que nos incomodarmos em dar-lhe um nome? Por que não chamá-la de normal? Porque ela machuca.

E sua recuperação significa aprender como fazer parar de doer.

Para explicar a recuperação, deixe-me usar uma metáfora. Em 1982, um incêndio quase destruiu a minha casa. Aprendi então algumas verdades sobre o fogo. O fogo não termina quando o corpo de bombeiros o apaga e vai embora. Reparar estragos de um incêndio pode envolver um processo de recuperaçao enorme e, às vezes, frustrante.

A brasa pode arder por muito tempo antes de irromper em chamas. O incêndio em minha casa começou silenciosa mas perigosamente num colchão, horas antes de irromper em chamas. Eu havia estado no quarto minutos antes de as chamas começarem e o quarto parecia “normal”. Embora sobrevivamos fisicamente a um incêndio, podemos ser afetados — traumatizados — mental e emocionalmente.

Anos após o incêndio, cada vez que via um carro de bombeiros passar, cada vez que ouvia sirenas ou via no noticiário da TV uma casa pegando fogo, eu entrava em pânico. Meu coração se apertava. Minha respiração ofegava. Minhas mãos tremiam. Quase sempre, ao sair de casa, verificava a casa duas vezes para ter certeza de que tudo estava bem. Eu não me sentia mais segura. Essas mesmas verdades também se aplicam a um outro fogo, o que viemos a chamar de codependência. Ele pode exigir um processo de reabilitação extenso, às vezes frustrante. Pode arder por longo tempo antes de entrar em chamas. E, embora sobrevivamos ao incêndio, muitos de nós ficam traumatizados.

Texto extraído do livro: Para além da codependência - Melody Beattie