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O primeiro amor - Meu Pai

Atualizado: 16 de mar. de 2022

Numa sessão de terapia me vi falando: Meu ideal de homem era meu Pai, pode parecer loucura mas nós idealizamos o homem que procuramos em nosso Pai. Sofri muito nas relações amorosas por tê-lo como modelo de homem para minha vida, tenho lembranças de minha infância de como ele tratava minha mãe. Ah! Sem esquecer que o comportamento dela na relação com ele era de uma mulher que amou demais, ela aceitava os espancamentos, as traições, as humilhações... O meu referencial de homem estava ali diante de mim e o referencial de como ser mulher estava ali ao meu lado embalando meu berço. Tenho lembranças de como eles se tratavam desde os meus 4 anos de idade, eu via meu pai agredindo minha mãe várias vezes, ele dava socos como se estivesse batendo em um homem, ele puxava seus cabelos, tapas na cara, eu ficava num canto apavorada chorando quieta e o mais triste era ver minha mãe toda machucada. Meu Pai era alcoólatra, quando ele bebia o inferno descia a terra e começava as sessões de pancadas, gritos e choros... Odiei meu Pai por longos anos, odiava ele por tratar minha mãe daquele jeito, odiava ele por me maltratar onde ninguém mais poderia, minha alma. Aos 12 anos comecei a defender minha mãe, pelo menos tentar defender, não aguentava mais ver tantas cenas de pancadarias, os pais não sabem o quanto isso faz mal a uma criança, o quanto de terapia essas crianças terão que fazer para serem um pouco melhores como pessoas, quantos leões ela terá que matar por minuto para tentar sorrir futuramente. Eu defendia e apanhava muito, cresci no meio da violência familiar, me tornei uma garota revoltada e rebelde, fugi cinco vezes da casa dos meus pais, matei aula durante um mês e como punição meu pai quebrou meus dois braços, apanhava com a borracha do fogão cheia de areia, com a fivela do cinto, com cabo de vassoura, a mão ele usava para dar tapas na cara e puxar meus longos cabelos e não deixava de falar você é igual sua mãe, ouvi muito essa frase isso me machucava mais do que as pancadas que ele dava, pois no meu íntimo eu achava minha mãe fraca e sem atitude. Não consigo ter muitas lembranças boas de minha infância e de minha adolescência, mais tem duas que não esqueço, a primeira é meu Pai levando eu e minhas duas irmãs na piscina e foi muito divertido, a segunda meus pais e minhas irmãs no carnaval. Minha irmã mais velha também sofreu muita violência física e um dia ela disse chorando: Flora para eu ter prazer preciso sentir dor, porque senão eu não me sinto completa, fiquei tão chocada que a abracei e chorei junto, eu a entendia, cada uma manifestava de uma maneira a dor que a infância nos causou. É fato que por ter um histórico tão ruim no momento mais importante da vida de um ser humano eu teria sérios problemas em meus relacionamentos futuros, algumas pessoas por muito menos os têm. Fiz escolhas desesperadamente errada, por ter um ideal de homem no qual eu vi ferir minha mãe na maioria das vezes sem motivos. As mensagens que recebi no tempo mais importante de minha vida foi, você é fraca sem atitude, você merece sofrer, será punida sempre que for preciso mesmo que seja por você mesma. E foi assim que construí no decorrer de minha vida relacionamentos desastrosos, complicados, violentos, humilhantes, no meu subconsciente estava registrado você precisa sofrer pra ganhar o amor do homem ideal em sua vida: seu Pai. Abominava o perfil dele mas eu o amava com meus sentimentos mais sinceros, mais profundos... Eles me disseram com suas atitudes : Você precisa sofrer, se humilhar para ganhar amor, pra se conquistar o afeto de alguém você precisa ser "boazinha". Eu queria sumir da vida deles, não me achava naquela casa , me sentia perdida, sem direção, eles me ensinaram que o correto era brigar ou se calar, não me ensinaram o meio-termo, eles negaram a nós o poder da comunicação, da flexibilidade, do amor-próprio, do diálogo, das atitudes, estavam muito ocupados com suas brigas e deixaram suas sementes sendo geradas num solo seco. Tenho o direito de seguir em frente, de procurar ajuda, de querer caminhos diferentes, de me amar...

Eu não posso mudar uma pessoa, mas posso mudar a mim mesma através de minhas escolhas, gritei para esse mundo de ilusões e dores dentro de mim: Chega, acabou, quero ser feliz e vou ser feliz nem que eu tenha que andar em cada terapeuta, se preciso for lerei milhares de livros de autoajuda, conversarei com quantas pessoas for preciso, irei em quantos grupos de ajuda eu tiver oportunidade, terei Fé em Deus, na vida e em mim.
Trecho extraído do livro: A mulher que amou demais - capítulo 2 - Autora: Flora Dominguez

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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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