"Amores que Aprisionam: A Trama Invisível das Mulheres que Amam Demais"
- Flora Dominguez
- 5 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
Há uma espécie de amor que se disfarça em ardor, mas que ao invés de construir, consome: o amor em excesso. Mulheres que amam demais frequentemente se perdem no outro, esquecem-se de si. Não é apenas um esquecimento passageiro, mas um abandono, uma entrega tão completa que se desfazem dos contornos de sua própria identidade.
Essas mulheres bordam seus dias com fios emprestados de outra existência. Vivem na sombra de um sentimento que acreditam ser luminoso, mas que as obscurece. O amor que ultrapassa a linha do saudável torna-se um cárcere, de barras forjadas com idealizações e medos. Elas se aninham em ciclos repetitivos onde a paixão é confundida com posse, onde a dedicação é medida pela renúncia de si.
Não é raro que mulheres que amam demais encontrem-se perdidas quando sozinhas, porque investiram todo seu ser na arte de amar o outro, esquecendo-se da primeira e mais crucial das artes: amar a si mesmas. Elas fazem da doação uma prática tão constante que, ao fim, resta-lhes um vazio – um espaço oco onde antes havia sonhos, desejos, a individualidade.
O amor exagerado é um vento que, ao invés de levar à navegação, provoca naufrágios. Mulheres que amam demais, frequentemente, veem seus relacionamentos como botes salvavidas, não percebendo que, na verdade, estão se afogando. Esses relacionamentos são como águas turvas: quanto mais se agitam tentando se salvar, mais se afundam.
O amor não deve ser um sacrifício constante, um martírio que se veste de nobreza. Não há nobreza alguma em desaparecer no outro. O amor verdadeiro nutre, não devora. A ironia é que, muitas vezes, nem o objeto desse amor desmedido deseja tal submissão. Trata-se de uma dança onde um dos parceiros não sabe que o ritmo mudou.
É necessário que essas mulheres reencontrem a melodia de suas próprias vidas. Que possam desvendar, na solidão, a doce companhia de estar consigo mesmas. Que aprendam que amar não é renunciar à luz própria, mas encontrar alguém com quem compartilhar essa luz, sem medo de ofuscar ou ser ofuscada.
O amor, quando bem calibrado, é um encontro de completudes, não de metades em busca de preenchimento. O primeiro passo para a cura é reconhecer-se inteira, mesmo quando sozinha. E então, talvez, poderão amar com a plenitude de quem não teme a própria companhia e entende que a maior das relações é aquela que se constrói com o próprio eu.
Texto escrito pela Psicanalista Flora Dominguez

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