top of page
Post: Blog2_Post

Casando com um narcisista perverso

Conheci Thiago na igreja que eu frequentava pois eu recepcionava as pessoas que chegavam pela primeira vez, ele era bonito, forte, um olhar de cachorrinho abandonado ( homens assim tem táticas especiais para atrair mulheres que amam demais, pelo olhar), fiquei amiga dele é claro eu tinha achado ele lindo e fervoroso na fé. Passado três meses de amizade ele me contou que estava namorando minha amiga Renata, me deu uma pontada no peito mas ele havia feito a escolha e ela era uma menina bonita e com a autoestima elevada.

 

Após um mês Thiago veio me procurar triste dizendo que Renata não lhe dava a atenção que ele merecia, que ela preferia os amigos à ele, que fazia de tudo pra chamar a atenção e que ela só dizia que não gostava de pessoas grudentas, que ela era nova e que não carregaria o peso da carência dele. Fiquei espantada com tudo que ele havia me contado, eu com meu jeito compreensivo disse que conversaria com ela pra ouvir o que tinha à dizer. Assim eu fiz e para minha surpresa ela falou que ele estava sufocando-a com tanta carência, que ele era dramático, que se sentia num filme de Romeu e Julieta e que ela não desejava esse tipo de futuro. Concluindo eles terminaram o namoro, e eu passei a consolar Thiago.

 

Passados três meses do término do namoro deles, Thiago se declarou pra mim dizendo que eu era a mulher que ele sempre havia sonhado, eu fiquei nas nuvens... Nosso namoro era normal, havia muita paixão entre nós ele era um doce de pessoa, me tratava como uma princesa e sempre dizia que me amava que não se via longe de mim. Eu o beijei e disse que eu estava realizada e me sentia abençoada por tê-lo conhecido.

 

Num sábado a noite Thiago me levou para jantar e me pediu em casamento, eu fiquei superfeliz chorava e ria ao mesmo tempo, naquele momento me senti realizada. Esse fato se passou no final de 1988 eu tinha apenas 18 anos de idade e ele 19 anos, cheios de planos e felizes por tudo que estava nos acontecendo. Ele me levou ao Rio de Janeiro para conhecer sua família, sua mãe era uma paraibana com um olhar que dava medo ela me observava por onde eu ia o tempo inteiro sem nada falar, eu detestava ficar sozinha com ela. Os irmãos pareciam normais mas quando fui conhecer o Pai de Thiago pra minha surpresa ele me perguntou: Tem certeza que quer casar com ele? Eu respondi sorrindo: Sim, pensava que ele estava brincando. Ele me perguntou novamente: Tem certeza que quer casar com ele. Eu respondi: Sim, mas nesse momento senti um frio na barriga. Ele me olhou profundamente pegou em minhas mãos e disse: Não faça isso você é uma menina bonita ele vai te fazer sofrer, não gosta de trabalhar e você vai ter que ser o homem e a mulher da casa, eu me separei da mãe dele pelo fato dela achar que eu deveria sustentá-lo só por ele ser meu filho e ter condições financeiras. Fiquei sem graça com tudo que havia ouvido, mas quando Thiago se aproximou senti que não deveria contar a ele e guardei pra mim tudo que tinha ouvido do meu futuro sogro. Minha família não recebeu bem a notícia do meu casamento, meus amigos ficaram paralisados pois éramos como a água e o vinho, eu simpática e alegre, ele sério e controlador. Meus pais relutaram pra assinar os papéis do casamento, disse-lhes: eu quero, quero, quero... Foi feita a minha vontade.

 
Meu casamento parecia um velório, todos choravam desesperadamente. Eu transpirava felicidade. Na hora dos cumprimentos minha sogra falou bem alto para todos ouvirem: Se você fizer meu filho infeliz eu venho acertar as contas com você. Fiquei com vergonha, no dia do meu casamento ouvir aquilo sem motivos. Quem casa quer casa, assim diz o ditado. Mas eu fui morar com meus pais, para minha sorte...
 

Fomos passar a lua de mel no Rio de Janeiro, pois eu não conhecia era do interior de Minas e nunca havia saído de lá. Fomos ao Pão de Açúcar e depois paramos pra lanchar. Para minha surpresa enquanto eu terminei de escolher e virei para o lado não vi Thiago. Olhei ao redor e o vi sentado com uma bela garota e quase a beijando na boca, eu tive a sensação de desmaio, o ar me faltou, meus olhos escorriam lágrimas como um oceano, eu tremia, saí correndo... De repente uma mão segurou meu braço, era Thiago com um ar feroz gritando e dizendo que eu era mal educada que aquela era uma amiga. Eu disse: Amiga? Você estava quase beijando ela na boca e você tem coragem de falar que ela é sua amiga. Ele numa fúria incontrolável meu deu um tapa na cara tão forte que parecia que tinha deslocado meu pescoço, eu caí e não suportei a dor de apanhar com três dias de casada, as lembranças de meu Pai batendo em minha mãe vieram á tona e eu fiquei ali sem conseguir me mexer chorando feito aquela criança aos 4 anos de idade, apavorada e sem direção.

 

Ele ficou tão apavorado com minha reação que me abraçou e pediu perdão chorando e eu não conseguia enxergá-lo eu só via meu Pai dizendo: Você é igual sua mãe. Chorei muito, me senti fraca e sem atitude, mas segui em frente. Perdoei Thiago por ele ter perdido o controle e pedi desculpas pelo meu descontrole. Ficamos bem novamente. Voltamos para a casa de meus pais e seguimos com nossa vida de casados, muita paixão, muito sexo e depois de um mês e meio comecei a me sentir mal, muito mal. Fui ao médico e veio a notícia que eu seria mamãe. Fiquei superfeliz e me senti estranha ao mesmo tempo, eu apenas tinha 19 anos.

 

Dei a notícia para meus pais eles ficaram felizes. Quando Thiago ficou sabendo, ele teve uma reação de desapontamento, ele me disse: Você não deveria ter feito isso comigo. Eu fiquei espantada, não sabia o que dizer. No dia que ele recebeu a notícia que seria papai, ele se transformou... O tapa na cara que ele havia me dado aquele dia, passou a ser rotina. As vezes eu acordava no meio da noite com ele parado me olhando como se quisesse me matar, era macabro aquela cena. Outras vezes acordava com ele sentado sobre mim gritando e me dando tapas na cara, como se quisesse me punir por eu estar grávida, era aterrorizante. Eu chorava muito, a cada dia eu sentia algo em mim morrer. Quando passava com ele na rua e alguém falasse um oi e eu respondesse era um beliscão que ele me dava.

 

Os dias foram passando, a tortura era constante... Já não me sentia mais como ser humano, estava totalmente machucada no meu íntimo e pensava como será o destino desse pedacinho que está dentro de mim. Thiago um dia chegou pra mim e disse: Eu casei com você pra quê? Eu respondi: Como assim? Ele respondeu: Minhas cuecas estão todas sujas e você não lavou porque? Fiquei com tanta raiva, que saí correndo peguei suas cuecas, coloquei no meio do quintal e atirei fogo, e disse: Foi pra isso que você casou comigo. Ele me olhou com tanto ódio, me pegou no colo me colocou na janela da casa e ficou falando: Nossa como é alto aqui, imagine se eu soltar você?! Nesse momento achei que morreria, mas minha mãe chegou no exato momento que ele estava fazendo isso e ele me colocou pra dentro. Eu só chorava e tremia. Depois de tudo isso ele voltava e dizia que me amava e eu tinha que ser mulher na cama mesmo passando por tudo isso, senão ele me punia. Com isso tive três ameaças de aborto.

 

Como eu não tinha atitude de me ajudar, meu corpo passou a responder ele de forma negativa. Toda vez que ele se aproximava de mim eu ficava enjoada e vomitava como se dentro de mim um monstro fosse sair, se ouvisse o nome dele eu me sentia mal e tinha que sair correndo, pra dormir com ele tinha que tapar minha cabeça se ele me tocasse eu vomitava. Um dia ele se cansou de brincar e disse que ia trabalhar no Rio de Janeiro e não voltou mais, esperei longos meses e nada. Minha princesinha nasceu, só veio registra-la aos 3 meses tirou uma foto com ela, olhou pra mim disse: Eu te amo e não voltou mais. Fomos abandonadas sem explicações. Não fui atrás, estava cansada demais e tinha minha filha pra cuidar. Um dia minha filha adoeceu e o que era simples se tornou gigantesco eu precisava de ajuda financeira e ele tinha condições e obrigações de me ajudar.

 

Liguei para ele e relatei o que estava acontecendo, que eu não tinha mais dinheiro pra gastar, que nossa filha estava precisando de ajuda. Ele apenas disse: Volta pra mim, eu te amo! Eu fiquei revoltada, respondi: Não quero falar sobre isso agora. Você vai me ajudar? Ele com toda calma do mundo respondeu: Não. Quero que você vá pro inferno e essa menina tomara que ela morra. E minha filha morreu...Nesse dia um pedaço de mim morreu, não me sentia parte desse mundo, afinal não queria mais fazer parte desse mundo. Eu perguntava a Deus: Não chega não? Me destrói logo de uma vez, porque me matar aos poucos? A revolta era grandiosa, o ódio não cabia em meu ser, era grande demais para eu suportar tamanha dor. Perguntava pra Deus o que eu faço, pra onde vou, o que devo fazer? Ouvi uma voz falar: Deixe o tempo passar e aprenda a amar a si mesma.


Fernando Pessoa traduz essa fase tão doída de minha vida. "A criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou. Mas hoje, vendo que o que sou é nada, Quero ir buscar quem fui onde ficou."
Texto extraído do livro: A mulher que amou demais, capítulo 3 - Flora Dominguez

Comments


  • Facebook
  • Instagram

©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

bottom of page