Escolhas Amorosas Tóxicas
- Flora Dominguez
- 30 de out. de 2024
- 6 min de leitura
No contexto psicanalítico, os tipos de relacionamentos que escolhemos e as pessoas com quem nos envolvemos estão profundamente enraizados em dinâmicas inconscientes que remontam às nossas primeiras experiências de afeto, cuidado e frustração. Segundo Freud, as repetições de padrões, muitas vezes destrutivos, podem ser uma forma de reencontrar, no presente, os conflitos não resolvidos do passado, especialmente relacionados às figuras parentais. Quando uma mulher se vê atraída por homens que exibem traços de controle, narcisismo ou indisponibilidade emocional, pode estar agindo sob o impulso de repetição, buscando inconscientemente reviver e, talvez, corrigir experiências frustrantes de sua infância.
A escolha inconsciente de parceiros inadequados muitas vezes está ligada ao "retorno do recalcado", ou seja, a tentativa de trazer à tona e resolver conflitos profundos não elaborados, que, se não conscientizados, continuam a influenciar as escolhas amorosas. A partir da perspectiva de Winnicott, uma mulher que se envolve com um homem controlador pode estar buscando, sem saber, recriar o ambiente de dependência da infância, tentando, dessa vez, encontrar uma maneira de ser validada ou ter suas necessidades reconhecidas.
Entender esses mecanismos inconscientes e os tipos de homens que devemos evitar nos ajuda a explorar as razões internas por trás de nossas escolhas amorosas, oferecendo a oportunidade de romper com padrões destrutivos e buscar relações mais saudáveis e autênticas.
Vamos analisar cada tipo de homem sob essa ótica:
"Ele sempre quer decidir tudo por mim, desde o que eu visto até com quem falo. Sinto que não tenho mais espaço para ser eu mesma." Paciente falando do parceiro controlador.
1. Controlador
Na psicanálise, o desejo de controle excessivo pode estar relacionado a uma tentativa de lidar com a ansiedade e o medo da perda. Um homem controlador, muitas vezes, pode estar revivendo conflitos infantis em que se sentiu impotente ou negligenciado. Ao tentar dominar o relacionamento, ele tenta controlar o que não podia controlar na infância, talvez como uma defesa contra sentimentos de vulnerabilidade. Para a mulher que se envolve com ele, isso pode remeter à busca por aprovação de uma figura parental autoritária ou indisponível, tentando finalmente ser "vista" ou "amada" como não foi na infância.
"Eu tento me abrir, mas ele nunca está realmente presente. Parece que ele construiu uma muralha em volta de si e eu nunca consigo atravessá-la." Paciente falando do parceiro emocionalmente indisponível
2. Emocionalmente Indisponível
A indisponibilidade emocional pode ser um sintoma de repressão emocional. Freud descrevia a repressão como um mecanismo de defesa que impede o indivíduo de acessar sentimentos desconfortáveis ou dolorosos. Homens emocionalmente indisponíveis podem ter vivido relações precoces marcadas por rejeição ou desapontamento, e, como defesa, distanciam-se emocionalmente para não reviver essas feridas. Para a mulher, a atração por esse tipo de homem pode ser um reflexo de uma dinâmica de abandono infantil, onde a esperança de "conquistar" ou "curar" o parceiro reflete a tentativa de corrigir a perda de afeto experienciada na infância.
"Ele me faz sentir que tudo gira em torno dele, como se meus sentimentos não tivessem importância. No fim, sempre acabo me sentindo invisível." Paciente falando do parceiro narcisista.
3. Narcisista
O narcisismo, segundo Freud, é uma forma de retorno do investimento libidinal para o próprio ego. Homens narcisistas têm dificuldade em estabelecer uma empatia genuína, pois sua energia está voltada para manter uma autoimagem idealizada. A origem desse comportamento pode estar em uma infância onde ele não recebeu amor incondicional ou foi supervalorizado sem que suas falhas fossem aceitas. Uma mulher atraída por um narcisista pode estar recriando a dinâmica de tentar receber afeto de uma figura parental fria ou emocionalmente distante, esperando que sua dedicação transforme essa figura em alguém afetuoso.
"Um dia ele me enche de amor, no outro desaparece sem explicações. Essa montanha-russa emocional me deixa exausta e confusa." Paciente falando do parceiro inconstante.
4. Inconstante
Homens inconstantes podem exibir padrões de comportamento que refletem um apego ansioso ou evitativo, conceitos trabalhados por John Bowlby na teoria do apego. A inconstância pode surgir de um modelo interno de instabilidade afetiva, onde ele oscilava entre momentos de afeto e rejeição na infância. Para a mulher, estar com um parceiro inconstante pode se relacionar à recriação de um ambiente emocional caótico, no qual ela tenta, desesperadamente, conquistar estabilidade e segurança, algo que talvez não tenha experimentado em sua relação com figuras parentais.
"No começo, ele era carinhoso, mas agora me machuca com palavras e às vezes com ações. Fico com medo de sair dessa relação, mas não sei mais como viver assim." Paciente falando do parceiro abusivo.
5. Abusivo
A agressividade e o comportamento abusivo muitas vezes remetem a traumas não resolvidos e a um mecanismo de defesa, onde a violência emocional ou física é utilizada para lidar com a impotência e o medo. Segundo Melanie Klein, essa agressão pode ser uma externalização de sentimentos de ódio e frustração reprimidos. Para a mulher que se envolve com um homem abusivo, isso pode ser uma repetição inconsciente de uma dinâmica familiar onde o abuso, o controle ou a violência estavam presentes, na esperança de que, desta vez, a história tenha um desfecho diferente.
"Parece que estou em um relacionamento com um adolescente, sempre tendo que resolver os problemas dele e cuidar de tudo sozinha." Paciente falando do parceiro imaturo.
6. Imaturo
A imaturidade emocional pode ser vista como um reflexo de fixação em uma fase precoce do desenvolvimento psicossexual, onde o indivíduo não superou de forma adequada certos desafios da infância, como a capacidade de adiar a gratificação ou de enfrentar responsabilidades. Segundo Freud, essa fixação pode ser um sinal de que o homem imaturo evita lidar com as exigências da realidade. A mulher que se envolve com esse tipo de homem pode acabar assumindo o papel de cuidadora, tentando suprir suas necessidades emocionais e compensar sua falta de maturidade, muitas vezes sacrificando suas próprias necessidades no processo.
"Ele sempre se coloca como vítima de tudo, como se o mundo estivesse contra ele. Às vezes, sinto que estou carregando o peso da vida dele nas minhas costas." Paciente falando do parceiro vítima.
7. Vítima Permanente
O homem que adota uma postura de vítima constante pode estar preso em uma identificação inconsciente com uma posição de impotência, onde se sente incapaz de agir sobre sua própria vida. Na teoria de Freud, isso pode estar relacionado a uma forma de regressão, onde ele busca a atenção e o cuidado que não recebeu adequadamente na infância. A mulher que se envolve com ele pode estar reencenando uma relação com figuras que sempre precisavam de ajuda e não podiam oferecer suporte, tentando "salvá-lo" e, assim, curar suas próprias feridas emocionais.
"Eu sempre suspeitava, mas agora tenho certeza. Ele me traiu, e mesmo assim, de alguma forma, me faz sentir como se fosse minha culpa." Paciente falando do parceiro infiel.
8. Infiel
A infidelidade pode ser vista, na psicanálise, como uma forma de evitar a intimidade genuína. O medo de se conectar profundamente pode levar o homem infiel a buscar múltiplos parceiros como uma defesa contra o comprometimento e a vulnerabilidade. Freud descrevia isso como uma "compulsão à repetição", onde o indivíduo repete comportamentos destrutivos em vez de enfrentar os sentimentos que o incomodam. A mulher que se envolve com esse tipo de homem pode estar tentando lidar com questões de autoestima e valorização, acreditando que, ao ser escolhida, ela finalmente provará seu valor.
"O vício dele tomou conta de tudo. Não importa o quanto eu tente ajudar, ele sempre escolhe a bebida primeiro. Sinto que estou perdendo ele, e a mim mesma." Paciente falando do parceiro viciado.
10. Viciado
Homens que sofrem com vícios geralmente utilizam substâncias ou comportamentos compulsivos como mecanismos de defesa para lidar com traumas, ansiedades ou dores psíquicas profundas. O vício pode ser uma forma de "anestesia emocional", onde o indivíduo evita o contato com suas emoções e a realidade ao seu redor. Para a mulher que se envolve com um homem viciado, pode haver uma tentativa inconsciente de "curá-lo", projetando nele a figura de alguém que precisa de resgate, muitas vezes relacionada a experiências de cuidados parentais frustrantes ou negligentes.
Reflexão Final
No contexto psicanalítico, o entendimento de que padrões inconscientes moldam nossas escolhas amorosas oferece uma oportunidade de reflexão e cura. Através da análise dessas dinâmicas, podemos começar a reconhecer e romper com esses ciclos repetitivos, buscando relacionamentos que sejam baseados em respeito, afeto mútuo e crescimento emocional. O autoconhecimento é o primeiro passo para transformar essas escolhas e encontrar relações que promovam o bem-estar psicológico e emocional.
Artigo escrito pela Psicanalista Flora Dominguez

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