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Machismo Estrutural: Uma Análise Profunda de Suas Raízes e Impactos

O machismo estrutural é um fenômeno complexo e enraizado, caracterizado por um sistema de crenças, práticas, normas e valores que perpetuam a desigualdade de gênero, favorecendo os homens em detrimento das mulheres e outros gêneros. Ao contrário de atitudes machistas isoladas, o machismo estrutural está embutido nas instituições sociais, culturais, políticas e econômicas, moldando comportamentos e dinâmicas de poder de forma sistêmica e invisível. Compreender e enfrentar essa estrutura é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.


"O machismo estrutural é como um alicerce invisível que sustenta desigualdades de gênero em todas as esferas da sociedade." Flora Dominguez

O Que É o Machismo Estrutural?

Machismo estrutural não se refere apenas a atos individuais de discriminação ou preconceito, mas a um sistema que organiza as relações de gênero de forma desigual. Ele é sustentado por séculos de construção histórica e cultural que consolidaram o poder masculino como norma, relegando mulheres a posições de subordinação. Sua presença é tão naturalizada que frequentemente passa despercebida, sendo aceito como "normal" ou "inevitável".

Essa estrutura se manifesta em múltiplos âmbitos: no trabalho, na família, na política, na mídia, na educação e até na linguagem. Sua perpetuação depende de práticas culturais, jurídicas e institucionais que reforçam a ideia de que homens e mulheres possuem papéis fixos e desiguais na sociedade.


O machismo estrutural naturaliza a ideia de que o trabalho doméstico e os cuidados com os filhos são responsabilidades exclusivamente femininas. Flora Dominguez

Raízes Históricas e Culturais


O machismo estrutural tem suas raízes em sistemas patriarcais ancestrais, que surgiram com a consolidação da propriedade privada e a divisão do trabalho. Na maioria das sociedades antigas, as mulheres foram associadas ao espaço doméstico, enquanto os homens se dedicaram às atividades externas, como a política e a guerra. Essa divisão consolidou a ideia de que os homens são naturalmente líderes e provedores, enquanto as mulheres são cuidadoras e submissas.

Religiões e tradições culturais também desempenharam um papel central na manutenção dessa estrutura. Muitas doutrinas religiosas relegaram às mulheres posições subordinadas, justificando sua exclusão de espaços de poder. Ao longo dos séculos, essas ideias foram absorvidas e reproduzidas por instituições sociais, políticas e econômicas, criando uma base sólida para o machismo estrutural.


"A falta de representatividade feminina em cargos de liderança é um reflexo direto das barreiras impostas pelo machismo estrutural. Flora Dominguez

Exemplos de Machismo Estrutural


1. No Mercado de Trabalho

  • Desigualdade Salarial: Mulheres frequentemente ganham menos do que homens, mesmo ocupando cargos equivalentes.

  • Cargos de Liderança: A sub-representação feminina em posições de liderança reflete barreiras institucionais e culturais, como o "teto de vidro".

  • Dupla Jornada: Mesmo trabalhando fora, mulheres ainda realizam a maior parte das tarefas domésticas e de cuidado, o que limita suas possibilidades de crescimento profissional.


2. Na Política

  • A política é historicamente dominada por homens. Mesmo com avanços, as mulheres continuam sub-representadas, enfrentando preconceitos e resistência em espaços de poder.

  • Políticas públicas frequentemente ignoram questões fundamentais para as mulheres, como saúde reprodutiva, violência de gênero e licença parental.


3. Na Mídia

  • A objetificação de mulheres na publicidade e no entretenimento reforça estereótipos de gênero, limitando a forma como elas são vistas e tratadas.

  • Personagens femininas em filmes e séries muitas vezes são reduzidas a papéis secundários ou definidos exclusivamente por suas relações com homens.


4. Na Educação

  • Livros didáticos e currículos escolares perpetuam estereótipos de gênero, retratando homens como líderes e cientistas, enquanto as mulheres aparecem em papéis domésticos.

  • Em algumas culturas, meninas têm menos acesso à educação formal, perpetuando ciclos de pobreza e subordinação.


5. Na Saúde

  • O corpo feminino é frequentemente medicalizado e controlado, com decisões sobre saúde reprodutiva tomadas por legisladores e profissionais que desconsideram a autonomia das mulheres.

  • Violência obstétrica e negligência no diagnóstico de doenças em mulheres são exemplos de como o machismo afeta até a saúde.


6. Na Família

  • Papéis de gênero atribuem à mulher a responsabilidade pela criação dos filhos e cuidados com a casa, enquanto os homens são vistos como provedores, mesmo que essas dinâmicas sejam desiguais e prejudiciais.


A violência de gênero, frequentemente desvalorizada ou silenciada, é uma das manifestações mais graves do machismo estrutural. Flora Dominguez

Consequências do Machismo Estrutural


O impacto do machismo estrutural é amplo e afeta a sociedade como um todo, perpetuando desigualdades e inibindo o pleno desenvolvimento de indivíduos e comunidades.


  1. Para as Mulheres

    • Limitação de oportunidades e liberdade de escolha.

    • Violência de gênero, incluindo feminicídios, assédio sexual e violência doméstica.

    • Sobrecarga emocional e física devido à dupla ou tripla jornada de trabalho.


  2. Para os Homens

    • Pressões para corresponder a papéis masculinos tradicionais, como ser o "provedor" ou "forte emocionalmente".

    • Repressão de emoções, levando a problemas de saúde mental e dificuldade em construir relações saudáveis.


  3. Para a Sociedade

    • Desperdício de talentos e habilidades devido à exclusão das mulheres de setores-chave.

    • Reforço de ciclos de pobreza e desigualdade econômica.

    • Dificuldade em alcançar uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva.

Enfrentar o machismo estrutural exige mudanças culturais profundas e o compromisso coletivo de toda a sociedade. Flora Dominguez

Como Combater o Machismo Estrutural


1. Educação e Conscientização

  • Introduzir a igualdade de gênero nas escolas desde cedo, desconstruindo estereótipos.

  • Promover campanhas de conscientização sobre machismo estrutural e suas implicações.


2. Revisão de Leis e Políticas

  • Garantir direitos iguais, como salários equivalentes, licença parental compartilhada e proteção contra violência de gênero.

  • Implementar cotas e ações afirmativas para aumentar a participação feminina em espaços de poder.


3. Transformação Cultural

  • Questionar narrativas e representações de gênero na mídia e cultura popular.

  • Incentivar homens a se engajarem na luta pela igualdade, reconhecendo seus privilégios e assumindo responsabilidades.


4. Empoderamento Feminino

  • Criar redes de apoio para mulheres enfrentarem desigualdades e violência.

  • Promover lideranças femininas em todas as áreas.


O machismo estrutural perpetua estereótipos que limitam tanto as mulheres quanto os homens, restringindo a liberdade de todos de viverem plenamente suas identidades. Flora Dominguez

Reflexão final:


O machismo estrutural é como uma brisa constante que, de tão familiar, passa despercebida. Ele sopra silenciosamente entre as palavras não ditas e as expectativas impostas, moldando vidas sem pedir permissão. Não é apenas o peso que as mulheres carregam, mas o vazio que deixa nos homens, sufocados pela exigência de ser o que nunca foram. É o corpo curvado da mãe exausta, o silêncio da esposa que engole a voz, o riso abafado da jovem interrompida. Mas também é o choro contido do pai que não aprendeu a ser vulnerável, a raiva do filho que não sabe pedir colo.

Não basta nomeá-lo; é preciso senti-lo. Ele está no olhar do chefe que diminui, na política que exclui, na piada que humilha. Está na estrutura, mas também na pele, nos ossos, nos sonhos que não foram sonhados.

Enfrentá-lo é um ato de coragem. Não é sobre lutar contra homens ou mulheres, mas contra as amarras invisíveis que nos distanciam de quem poderíamos ser. É sobre desatar nós, soltar o peso, desafiar o vento. Para isso, precisamos ser mais que críticos; precisamos ser sensíveis, abrir os olhos e o coração. Porque só assim faremos do mundo um lugar onde todos possam respirar.


Artigo escrito pela Psicanalista Flora Dominguez



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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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