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Não posso forçar o amor

Atualizado: 10 de mar. de 2022

Não fui criada para olhar para dentro de mim mesma e muito menos olhar para minha própria história. Hoje com o conhecimento que tenho, sei o quanto foi difícil para meus pais serem eles mesmos. Não foi fácil ser filha deles apesar de amá-los. Foi muito difícil sentir no âmago do meu ser uma raiva feroz, olhar meu corpo machucado e lesionado pelos espancamentos e ao mesmo tempo sentir a culpa por desejar que eles desaparecessem da face da terra.


Infelizmente os padrões morais que internalizamos desde crianças nos tranca em uma prisão. Nesse lugar solitário não admitimos o que sentimos e com o tempo nosso corpo adoece gravemente. Com o colapso do meu corpo aos trinta e nove anos, aprendi que ele é um portal de informações.


Somente quando me permiti sentir todas as emoções que estavam represadas dentro de mim é que comecei a compreender porque coloquei minha vida em perigo várias vezes. Somente quando somos capazes de olhar para dentro de nós é que nos libertamos de um passado que nos causou tanta dor.


Quantas vezes exigi coisas impossíveis para mim mesma, quantas vezes mordi meus braços dizendo: "Você tem que amá-los custe o que te custar". Sentir as mordidas eram mais confortáveis e menos doloroso. Os filhos querem ser amados por seus pais, mas nem sempre seremos. Aprendi com Alice Miller: "No final, tive que perceber que não posso forçar o amor vir se ele não tiver lá em primeiro lugar".

No começo foi muito difícil entender e processar tantas dores. É fácil você se abrir para sentimentos positivos e extremamente difícil para os negativos, aprendemos desde cedo que é feio mostrar o que se sente.


Foi na minha recuperação da dependência emocional que enxerguei que precisaria parar de me iludir, ver isso me trouxe sofrimento e alívio ao mesmo tempo. Sofrimento porque já estava acostumada com a zona de conforto, apesar de não crescer nesse lugar eu conhecia todas as suas facetas. Sentir alívio foi maravilhoso e libertador mais o medo do desconhecido era assustador demais.


De acordo que fui evoluindo na minha recuperação fiquei perplexa ao perceber que vivi anos sem consciência, foram trinta e novo anos de autoengano. Não foi fácil me libertar de tantos grilhões que me prendiam. Hoje, tenho consciência que estarei numa intensa metamorfose para me curar de tantas coisas ruins por tempo indeterminado.


Os adultos precisam aprender que crianças precisam de amor, atenção, carinho, proteção, bondade e de pais que se comuniquem. Se os pais conseguirem suprir essas necessidades, a criança crescerá com boas memórias desses cuidados e passará adiante todo esse afeto. No entanto, se eles não conseguirem, essa criança viverá em busca de suas necessidades vitais.

Quando nos tornarmos adultos direcionaremos essa busca para outras pessoas. Crianças maltratadas, rejeitadas, abandonadas e negadas ao se tornarem adultos procurarão seus pais em outras pessoas para que suas necessidades sejam supridas. O vazio já está instalado ali, esperando para ser preenchido. Viveremos em busca de pessoas que nos ofereça o que nos foi negado e a única maneira de mudar essa história é identificar o que nos aconteceu em nossa infância. É um processo longo de enfrentamento, só assim aprenderemos a nos dar atenção, respeito, compreensão, proteção e o amor incondicional que nos foi negado.


Na Terapia precisaremos de um profissional que diante dos traumas da infância não aja com neutralidade, mas que tenha empatia para abraçar essa criança ferida. Aprenderemos que reprimir essas emoções fortes é condenar nosso corpo a inúmeras doenças, pois essa é a forma delas se expressarem. Não podemos minimizar as memórias que se encontram armazenadas em nosso corpo.


Foi com os estudos e pesquisas que conclui que meus pais precisaram dos filhos para a ab-reação de suas próprias feridas, para que eles pudessem evitar ter que realmente senti-las. Foi através da terapia e de distanciamento que fui recuperando minha sanidade um pouco a cada dia.


Ser abandonado pela negligência de nossas necessidades de dependência de desenvolvimento é o principal fator para se tornar uma criança adulta. Nós crescemos; parecemos adultos. Andamos e falamos como adultos, mas sob a superfície há uma criança que se sente vazia e carente, uma criança cujas necessidades são insaciáveis ​​porque tem necessidades de criança em um corpo adulto. Essa criança insaciável é o cerne de todo comportamento compulsivo/viciante.
John Bradshaw


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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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