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O Aprendizado do Amor Unilateral

O amor unilateral é um oceano onde só um navega, um céu onde apenas uma estrela brilha. É uma jornada solitária, marcada por uma doçura melancólica e uma dor silenciosa, que só quem ama sozinho conhece.

Esse amor começa como um sussurro, uma leve inclinação do coração que vai se tornando uma inclinação avassaladora. Ele nasce da admiração, da atração, da conexão profunda que se sente com alguém. E, no início, há sempre aquela esperança, aquele brilho nos olhos ao pensar "e se?". Mas, com o tempo, esse "e se" vai se desfazendo, transformando-se em um eco que ressoa na vastidão de um sentimento não correspondido.


Amar sozinho é aprender a conviver com a ausência do que nunca se teve. É alimentar um sentimento que cresce no silêncio, que floresce à margem dos olhares, que se fortalece nas pequenas interações do dia a dia, mesmo sabendo que não levarão a lugar algum. É ler mensagens nas entrelinhas de conversas casuais, é esperar por um olhar que demore um segundo a mais, por um sorriso que pareça ter um significado oculto.

Neste amor, cada gesto, cada palavra do outro é analisada, virada e revirada em busca de algum sinal, alguma esperança. Mas, no fundo, sabe-se que é um castelo construído na areia, vulnerável a cada onda da realidade.


O amor unilateral ensina muito sobre nós mesmos. Revela a profundidade da nossa capacidade de amar, a força da nossa esperança, a resiliência do nosso coração. Mas ele também traz consigo a sombra da solidão, a dor de um coração que transborda amor sem ter para onde fluir.

A cada dia, aprende-se a lidar com a mistura de sentimentos: a alegria de estar perto da pessoa amada e a tristeza de saber que esse amor não é compartilhado. Aprende-se a apreciar os pequenos momentos, mesmo que eles sejam apenas ilhas temporárias de felicidade em um mar de desejo não correspondido.


Mas, eventualmente, chega o momento de olhar para dentro e perguntar: até quando? Até quando alimentar um amor que não encontra eco? Até quando viver na sombra de um sentimento que não pode ser pleno?

Esse é o ponto de virada, o momento de profunda reflexão e coragem. É quando se percebe que o amor próprio também precisa de espaço para respirar, que a própria felicidade não pode ser eternamente condicionada à presença de alguém que não vê o que se oferece.


Então, aos poucos, começa o processo de desapego, tão doloroso quanto necessário. Aprende-se a se desvencilhar das amarras desse amor, a reconhecer o próprio valor independentemente da reciprocidade afetiva. Aprende-se a direcionar esse amor para dentro, para curar as feridas que a rejeição causou, para fortalecer a alma para futuros amores.

Amor unilateral é, por fim, um mestre severo e gentil. Ele ensina sobre a beleza e a dor de amar, sobre a força e a fragilidade do coração humano. Mas, acima de tudo, ele ensina sobre a importância de amar a si mesmo, de reconhecer que não se pode forçar o sentimento alheio, mas se pode escolher como lidar com o próprio. E nesse processo, naquele caminho de dor, crescimento e autoconhecimento, descobre-se que o maior amor que podemos cultivar é aquele que nasce em nosso próprio ser, um amor que não pede nada em troca, que é completo em si mesmo.


Texto escrito pela Psicanalista Flora Dominguez


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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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