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O Medo de Ser Autêntico

A frase "Eu não tenho coragem de ser eu mesmo" reflete um conflito interno profundo que a psicanálise busca compreender e explorar. Na visão psicanalítica, essa falta de coragem para ser autêntico está relacionada a mecanismos inconscientes e ao desenvolvimento do ego, que se vê dividido entre impulsos internos e as demandas externas da sociedade e das figuras de autoridade.


Desde cedo, aprendemos a adaptar nosso comportamento para receber aceitação, amor e aprovação. As expectativas dos pais, professores e da sociedade moldam nosso superego, que atua como uma força reguladora, reprimindo impulsos e desejos considerados inaceitáveis ou inadequados. Esse processo, embora necessário para a socialização, pode levar à formação de uma identidade que se baseia mais nas expectativas alheias do que em nossos verdadeiros sentimentos e desejos. O medo de rejeição, crítica ou punição nos leva a criar máscaras ou personas que escondem quem realmente somos.


A coragem de ser si mesmo, segundo a psicanálise, implica em entrar em contato com esses aspectos reprimidos da nossa psique. Freud descreveu o inconsciente como um repositório de desejos, impulsos e memórias que foram relegados a um segundo plano porque causam desconforto ou entram em conflito com as normas sociais. A ausência de coragem para ser autêntico pode ser vista como uma tentativa de evitar esse desconforto, mantendo esses aspectos indesejados fora da consciência.


Além disso, a falta de coragem para ser quem somos pode estar ligada à internalização de críticas ou julgamentos recebidos na infância. Se uma criança cresce em um ambiente onde suas expressões autênticas são invalidadas ou punidas, ela aprende a reprimir partes de si mesma para evitar a dor da rejeição. Na vida adulta, esse padrão pode se manifestar como uma profunda insegurança ou medo de mostrar ao mundo sua verdadeira essência.


A psicanálise nos encoraja a explorar essas camadas internas e a reconhecer que a coragem de ser nós mesmos envolve aceitar nossa complexidade e ambiguidade. Não se trata apenas de afirmar nossos desejos ou vontades, mas de compreender e integrar nossos conflitos internos, nossas sombras e nossas luzes. É um processo de autoconhecimento que nos permite desconstruir as máscaras e nos reconectar com nosso self autêntico, mesmo diante do medo da rejeição ou da crítica.


Em última análise, a coragem de ser si mesmo é um ato de libertação, um movimento em direção à integração de todas as partes de nós mesmos, permitindo-nos viver de maneira mais plena e verdadeira.


Texto escrito pelo Psicanalista Celso Araújo


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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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