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Porque mentimos tanto para nós mesmos?

Autoengano: Um Mecanismo de Defesa do Ego na Psicanálise


Mentir para si mesmo é um fenômeno intricado que revela as complexidades da psique humana. Sob uma perspectiva psicanalítica, essa tendência é vista como uma defesa do ego contra a dor psíquica, um mecanismo que protege o indivíduo de verdades que poderiam ameaçar sua autoimagem ou bem-estar emocional.


Sigmund Freud, o pai da psicanálise, introduziu a ideia do inconsciente como um reservatório de desejos reprimidos, traumas e conflitos internos. Segundo ele, mentimos para nós mesmos como uma forma de manter esses conteúdos inconscientes fora da consciência. A verdade, quando percebida como insuportável ou ameaçadora, é distorcida ou negada, permitindo ao indivíduo manter uma visão de si mesmo que é mais confortável, embora não seja necessariamente realista.


Esse processo de autoengano pode ocorrer de várias maneiras. A racionalização, por exemplo, é uma das formas mais comuns. Quando uma pessoa age de maneira contrária a seus valores ou desejos, ela pode inventar justificativas que fazem com que suas ações pareçam lógicas ou aceitáveis, mesmo quando elas não são. Outro mecanismo é a repressão, onde pensamentos e sentimentos indesejados são empurrados para o inconsciente, fazendo com que a pessoa se comporte de maneiras que não compreende totalmente.


Além disso, Freud também explorou o conceito de formação reativa, onde sentimentos ou impulsos inaceitáveis são transformados em seus opostos. Por exemplo, uma pessoa que sente raiva pode inconscientemente se convencer de que ama a pessoa que é o alvo dessa raiva, ocultando a verdade de si mesma.


Jacques Lacan, um dos principais teóricos pós-freudianos, acrescentou outra camada a essa compreensão, destacando o papel da linguagem e do simbólico no processo de autoengano. Segundo Lacan, o ser humano está constantemente em busca de um sentido de completude, mas essa busca é frustrada pelo fato de que a linguagem nunca pode capturar totalmente a realidade. Assim, as mentiras que contamos a nós mesmos são, em parte, uma tentativa de criar uma narrativa coerente sobre quem somos, mesmo que essa narrativa seja uma construção ilusória.


Em suma, do ponto de vista psicanalítico, mentir para si mesmo é uma forma de defesa contra as verdades dolorosas e desestabilizadoras. Esse autoengano, embora possa proporcionar alívio temporário, muitas vezes perpetua o sofrimento, pois impede o indivíduo de confrontar e trabalhar através de seus verdadeiros conflitos internos. A psicanálise busca justamente desvendar essas camadas de autoengano, ajudando o indivíduo a confrontar suas verdades mais profundas e, assim, alcançar um maior grau de autenticidade e bem-estar emocional.


Texto escrito pelo Psicanalista Celso Araújo


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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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