Será Que Realmente Dei Todas as Chances ao Meu Relacionamento?
- Celso Araújo
- 8 de set. de 2024
- 2 min de leitura
A dúvida persistente de ter "dado todas as chances" a um relacionamento, mesmo quando a pessoa já se esforçou ao máximo, está enraizada em processos emocionais e psicológicos complexos. Do ponto de vista psicanalítico, essa incerteza pode ser resultado de uma combinação de fatores inconscientes, como a idealização do parceiro, a busca por validação e o medo de aceitar o fracasso.
Uma das razões para esse questionamento constante é a **idealização** do parceiro ou do relacionamento. Muitas vezes, projetamos no outro expectativas irreais ou acreditamos que ele pode mudar e, assim, corresponder ao ideal que criamos. Quando a realidade não corresponde a essas expectativas, o indivíduo se agarra à esperança de que talvez um novo esforço ou mais paciência possa transformar a relação. Isso reflete uma dificuldade em aceitar a imperfeição da outra pessoa e do relacionamento, o que pode estar ligado a experiências infantis, em que o indivíduo sentiu a necessidade de agradar figuras parentais para ser amado ou aceito.
Outro fator importante é o **medo do fracasso**. Terminar um relacionamento pode ser visto como uma derrota pessoal, uma prova de que falhamos em algo que investimos tempo, energia e emoções. Esse medo é exacerbado pela sociedade, que frequentemente valoriza a ideia de “fazer um relacionamento dar certo”, levando as pessoas a questionarem se realmente esgotaram todas as possibilidades antes de desistir. Essa pressão externa pode alimentar o medo de abandonar o relacionamento antes de "tentar o suficiente", mesmo quando o esgotamento emocional já está evidente.
Além disso, o **desejo de validação** é uma força poderosa. Em muitos casos, a pessoa continua questionando suas ações no relacionamento porque está buscando, inconscientemente, a aprovação do parceiro ou de si mesma. Esse desejo pode estar vinculado a uma insegurança interna, que faz com que o indivíduo tenha dificuldade de acreditar que fez o melhor que pôde. A pessoa continua tentando, esperando que o parceiro finalmente reconheça seu valor e esforço.
Finalmente, o **medo da solidão** e da incerteza sobre o futuro pode contribuir para essa dúvida persistente. A perspectiva de enfrentar a vida sem o parceiro, por mais disfuncional que o relacionamento seja, gera angústia. O apego emocional e o medo de enfrentar a dor da separação fazem com que a pessoa se pergunte repetidamente se realmente esgotou todas as chances antes de tomar uma decisão final.
Em suma, a dúvida sobre ter feito o suficiente em um relacionamento é uma mistura de idealização, medo de fracassar, busca por validação e medo da solidão. Esses fatores, muitas vezes inconscientes, fazem com que a pessoa se mantenha em ciclos de autoquestionamento, adiando decisões importantes.
Texto escrito pelo Psicanalista Celso Araújo

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