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Um caso de amor com você

Ainda tenho aquelas doces palavras da minha Terapeuta querida na minha recuperação:

"Quando você aprender a se amar e se valorizar, você encontrará alguém que corresponda a essa energia. É de sua inteira responsabilidade se amar". Aquelas palavras ficaram gravadas em minha mente: "Você precisa aprender a se amar e se valorizar".


Respirava fundo, suspirava, suspirava e pensava comigo mesma: "Deus o senhor está vendo não é? Estou tentando, mas quando me amar vai ficar mais fácil? Apesar de perguntar, não obtive resposta, essas respostas tinham que vir de mim mesma.

Tinha dias que era ótimo estar comigo mesma, mas na maior parte do tempo não me sentia merecedora da felicidade, me sentia inadequada, vazia, triste e totalmente perdida. Eu precisava me amar e me valorizar , tinha que me desafiar a ser minha melhor amiga. Sabe o que é você precisar desesperadamente de si mesma? Eu queria saber como era "estar em paz dentro de mim". Será que aquela tempestade dentro do meu ser iria se acalmar? Eu precisava descobrir, então montei o projeto solo "Um caso de amor com Flora".


Eu precisava construir essa história comigo, nessa narrativa a heroína seria eu mesma, precisava aprender a lidar com todas as vozes que viviam na minha mente e dar conta de todos os demônios que povoavam meus sonhos.

Antes de iniciar meu projeto solo, eu era a minha pior inimiga, nada do que fazia era o bastante para me sentir suficiente. Como seria passar o dia inteiro sem me sentir mal em minha própria pele? A minha ambição era me sentir confortável dentro do meu ser. Por trinta e nove anos me tratei como lixo, ferrei com meu psicológico por causa dos traumas, me sabotei inúmeras vezes, escolhi homens inacessíveis, bandidos, alcoólatras, viciados em drogas e pegajosos para que pudessem me paparicar o tempo inteiro, para poder me sentir um pouco mais confortável dentro de minha alma. Eu só ficava na superfície, mergulhar profundamente não era minha praia.


Gastava compulsivamente, comia demais ou não comia nada, trabalhava demais ou vivia em busca de alguém que pagasse minhas contas. Gentileza comigo nem pensar e compaixão passava longe. Como alguém iria me amar? Quando olhei em minha volta, vi que meu círculo familiar e colegas eram como eu, a maioria não se valorizava e nem se amava.

Não é o que desejamos pode ter certeza, mas não aprendemos a fazer diferente e a minha geração não falava sobre isso, não se expressava como nos expressamos hoje. Eu ficava numa busca constante de viver bem arrumada, cheirosa, sedutora, encenando eterna felicidade, mas no fundo me sentia insuficiente. Tentava ser, ser, ser e quando o chão se abria a dor era inevitável. Quanto mais corria mais tudo ficava distante e frio.


Hora obesa ou hora magérrima, tentava controlar fora de mim o que estava sem controle dentro. Eu estava bloqueando com tantos padrões, crenças e com os feedbacks negativos sobre mim, me julgava apenas por existir. Meu foco era totalmente no que não conseguia, não olhava a paisagem e muito menos apreciava meus esforços.


O amor próprio não é servido numa bandeja de ouro. Eu tive que aprender a andar na contramão de tudo que aprendi. Eu tinha que saber como era ser apaixonada por mim e fazer isso ser duradouro. Eu não fazia parte de nada e vivia me perguntando,"como vou me amar"?

Diante de tudo que vivi na infância e na adolescência com toda certeza teria sérias dificuldades de me amar quando adulta. Meu pai constantemente repetia "você é igual a sua mãe uma infeliz", não era fácil quase todos os dias ouvir isso durante décadas. Eu não me achava digna de ser amada, estava presa aquelas palavras e muitas outras situações. O meu crítico interior me julgava e me depreciava, essas vozes ficavam ali me consumindo.


Quando comecei a minha recuperação tive que olhar para tudo que me bloqueava, essa parte de mim me sabotava diariamente. Essa voz interior me mostrava quão gorda estava ou quão magra, quão velha ou quão ignorante, quão idiota ou quão inferior. Estava totalmente perdida e sozinha, só achava pessoas que contribuíam para me sentir pior.


Quem ficava no banco do motorista era a "voz do meu pai", como um disco arranhado ou uma torneira que não parava de pingar, a culpa por existir gelava meu corpo. Focava o tempo todo no que não estava indo bem em vez de começar a aprender a fazer diferente.


O amor próprio não ia chegar naturalmente, buscar a felicidade e a realização não iria me dar a sensação de paz que tanto precisava e desejava. Eu queria ter a experiência de me apaixonar por mim mesma e queria me amar incondicionalmente. Quando a gente se apaixona, tudo é intensificado e a gente se dedica a essa pessoa. Em nosso fascínio por esse objeto de prazer não vemos suas falhas.

Eu queria poder ter um romance de verdade comigo mesma, queria poder sentir tudo isso, mas iria ter que aprender fazer esse amor durar. Se apaixonar por mim e fazer esse amor seguir comigo era essencial, é um processo de gentileza que precisei descobrir para viver nesse mundo.


Estava aprendendo na terapia que não havia necessidade de guerrear comigo, eu precisava celebrar a luz amorosa que existia dentro de mim, não precisava me encaixar, ser aceita e nem tinha que ser diferente. Eu ficava ansiosa para mais um dia com minha Terapeuta iluminada, queria viver minha vida a vontade e sem ter que ficar tentando me consertar o tempo inteiro como se eu fosse um brinquedo quebrado.


Assim comecei meu projeto solo "Um caso de amor com Flora". Iniciei os questionamentos: "O que as pessoas faziam para se amar? Que estratégias e dicas é saudável seguir? Fazia e faço meditação até hoje, repetia e repito mantras de autoestima. Me olhava no espelho com dificuldade e fazia um elogio, mesmo que não acreditasse. Hoje isso se tornou algo fácil para mim, mas antes como era difícil combater a voz do meu pai dentro de mim.


Não desisti em nenhum momento dos passos e nem da terapia, poderia ficar sem qualquer "mimo", mas sem a "terapia" jamais.

Não é da noite para o dia que você vai se amar, é com trabalho duro. Eu precisei ter perseverança e todos os dias repetia tudo que havia vivido e as consequências de olhar para trás. A minha ambição de ser feliz comigo mesma me emocionava. Eu queria ser dona de mim e por isso comecei a tomar as medidas necessárias para fazer o milagre acontecer.


Fui seguindo o fluxo, os questionamentos foram ficando um pouco melhores a cada dia. Pensava tudo que tinha feito de bom para muitas pessoas ruins e me perguntava: "Como não amar você?", logo a seguir a voz do meu pai "você é igual a sua mãe uma infeliz", pensei pensei e lembrei o que minha Terapeuta havia me ensinado sobre "confrontos".

Questionei pela primeira vez essa voz: "Ok, você diz que sou igual a ela, claro que algumas coisas serão parecidas, mas você é a voz do meu Pai então isso quer dizer que também me pareço contigo. Qual a sua intenção de ficar perpetuando essa infelicidade em mim? Isso quer dizer que você também é infeliz? Pai sua voz quer me convencer que também preciso perpetuar as dores da família? A voz se calou pela primeira vez, eu chorei de emoção por ter conseguido dar um "STOP", aquele disco naquele dia não arranhou e nem a torneira pingou, mas era só o começo da luta.


A sensação de prazer foi tão boa que mesmo com todas as minhas dificuldades emocionais "daquele momento", prometi seguir em frente.


"O que mais me ajudou nessa jornada foi aceitar minha história e tomar posse dela, aprender que minhas partes feridas precisam da minha atenção. Essa atitude foi e ainda é a atitude mais corajosa que já tive em minha vida".

Muitas pessoas dizem que foi fácil chegar onde cheguei, infelizmente o ser humano minimiza os esforços do próximo e como diz o velho ditado "pimenta nos olhos do outro é refresco".


Como a maravilhosa poetisa Maya Angelou nos deixou como ensinamento: "Nós nos deliciamos com a beleza da borboleta, mas raramente admitimos as mudanças pelas quais ela passou para alcançar essa beleza".


Com amor,

Flora Dominguez


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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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